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Uma Shirley Jackson inesperadamente divertida em "O ninho do pássaro" Oscar Nestarez Galileu.txt
A morte da escritora americana Shirley Jackson completa 60 anos em agosto de 2025. Para marcar a efeméride,blaze movie 2022 where to watch a editora Alfaguara acaba de lan?ar o romance O ninho do pássaro, até ent?o inédito no Brasil. Publicado pela primeira vez em 1954, este livro foi, com o tempo, eclipsado por outros títulos da autora, como A assombra??o da Casa da Colina, O homem da forca e Sempre vivemos no castelo — três romances que, em conjunto com alguns de seus contos, transformaram Jackson em referência para o que se convencionou chamar de horror psicológico. SUS lan?a camisinha texturizada e médico faz unboxing Aeroporto de Guarulhos intercepta carga de 102 kg com ratos empalados Continuar lendo De Stephen King a Mariana Enriquez, praticamente todos os grandes nomes do gênero reconhecem o talento da autora para compor perturba??es a partir dos conflitos internos de suas personagens. Que s?o quase sempre mulheres jovens, quando n?o meninas, portanto mais sujeitas e sensíveis às press?es ocultas nos chamados anos dourados da década de 1950 nos EUA, quando se fixou o american way of life. Enquanto tudo ao redor brilhava e prosperava, enquanto a classe média ia às compras como nunca antes, do lado de dentro das protagonistas de Jackson as coisas iam mal. Elas s?o, via de regra, figuras alienadas, apartadas daquela normalidade artificial. Seus ricos e complexos universos interiores conflitam com o pragmatismo e o otimismo da época. Por isso as heroínas de Jackson s?o solitárias e buscam seu lugar em um mundo no qual n?o conseguem se encaixar, em um movimento que as coloca em situa??es perigosas — como Eleanor Vance, a jovem de dons mediúnicos de A assombra??o da Casa da Colina, que resolve passar um tempo numa casa supostamente assombrada para se enturmar; como Natalie Waite, a universitária imaginativa de O homem da forca, que, para escapar do pai tiranico e da m?e omissa, refugia-se em um mundo de fantasia sombria, também cheio de riscos; ou, em situa??es mais extremas, como Merricat e Constance Blackwood, as irm?s de Sempre vivemos no castelo, que moram em um casar?o isolado e se veem acuadas por tragédias de todo tipo. Também é o caso de Elizabeth Richmond, a protagonista de O ninho do pássaro. O livro vem apresentado como exemplo da plenitude da “rainha do terror”; e de fato, o enredo nos convida a ter essa impress?o. Como outras cria??es de Jackson, Elizabeth é uma jovem tímida, introspectiva, que sofre de dores de cabe?a terríveis e ataques de amnésia, durante os quais se transforma em algo muito diferente do que é. Mas só sabemos disso pelas rea??es de sua tia Morgen, com quem vive. Elizabeth é, ent?o, encaminhada para um psiquiatra, dr. Victor Wright, que por meio de hipnose descobre existirem, dentro da jovem, quatro personalidades diferentes entre si, vivendo em constante conflito. No amago dessa fragmenta??o está um evento decisivo, a morte da m?e de Elizabeth, cercada de mistérios. A síndrome de personalidades múltiplas (ou, no nome técnico, transtorno dissociativo de identidade) já rendeu fic??o inquietante. A mais famosa talvez seja o filme Fragmentado (2016), escrito e dirigido por M. Night Shyamalan, no qual o protagonista interpretado por James McAvoy tem dentro de si 23 personalidades, sendo uma delas bem perigosa. Por vezes o clássico O médico e o monstro (1886), de R.L. Stevenson, também é lido à luz do TDI. Mas aqui vamos evitar qualquer diagnóstico de personagens, qualquer patologiza??o da fic??o; basta dizer que é extensa a tradi??o de obras literárias a explorarem as contradi??es e as fraturas do ser humano por veredas sinistras — uma cronologia que remonta aos personagens ambivalentes de Edgar Allan Poe, e também à figura??o dos duplos. De início, O ninho do pássaro arrisca seguir pelo mesmo caminho sombrio. As primeiras transforma??es de Elizabeth s?o perturbadoras, e o dr. Wright chega a suspeitar de possess?o demoníaca: “O que vi naquela tarde foi o apavorante rosto sorridente de um diabo, e, ai de mim, já o vi milhares de vezes desde ent?o”, afirma o médico, na tradu??o de Débora Landsberg. Mas ele logo descarta a possibilidade e entende o que se passa com a jovem: uma fratura de sua “personalidade integrada” em consequência de algum trauma, o que resulta em outras personalidades divergentes e antagonistas entre si. à medida que segue com as sess?es de hipnose, dr. Wright se depara com três manifesta??es, as quais nomeia, para nosso sofrimento, como Beth, Betsy e Bess. Cada uma delas tem características bem diferentes. Temos, a partir daí, um ambicioso jogo de espelhos, que demanda arrojos formais de Jackson. O romance é narrado de três pontos de vista diferentes: Elizabeth e tia Morgen, ambas na terceira pessoa; e o dr. Wright, na primeira, em um diário no qual ele registra o tratamento de sua paciente. Nos três casos, as diferentes personalidades de Elizabeth se sucedem, assumindo o controle de sua vida e de seu corpo — o que, na dimens?o literária, significa tomar a palavra. Assim sendo, é por meio das transforma??es no rosto da protagonista e de suas escolhas vocabulares que seus interlocutores percebem estar diante de Beth (amorosa e compreensiva), Betsy (provocadora e infantil), Bess (egoísta e materialista) ou da própria Elizabeth (acanhada). As quatro se acusam e se sabotam sem parar, o que ocorre por meio de cenas complexas e inevitavelmente confusas. Um exemplo: durante as sess?es de hipnose, o dr. Wright descobre que, ao entregar um lápis e um papel para sua paciente, pode conversar com duas das personalidades ao mesmo tempo. Enquanto fala com uma, outra rabisca no papel, geralmente contradizendo aquela que detém a palavra e a acusando de algo. é uma estrutura labiríntica, que Jackson desenvolve em formato semelhante ao da dramaturgia, com diálogos breves e indica??es de quem se pronuncia entre parênteses. E isso requer nossa aten??o total — também será compreensível se esse procedimento afastar alguns leitores da obra, pois é fácil nos perdermos pelas sinuosidades do texto. Quem, no entanto, quebrar essa rebenta??o e seguir adiante vai se deparar com um livro surpreendentemente divertido. Há algo de buf?nico na tia Morgen, uma solteirona maliciosa e extravagante que, à sua maneira, faz de tudo para salvar a sobrinha de si mesma; e o dr. Wright é caprichoso e cínico o suficiente para que seu relato seja marcado por tiradas inesperadas. Mesmo quando se vê perturbado pelas transforma??es da paciente, o psicólogo trata disso com a leveza e a ironia de quem já viu e viveu de tudo (tem por volta de 60 anos), o que impede a história de recair em atmosferas mais tensas, apropriadas ao horror. Mas s?o Elizabeth e suas “irm?s” as principais agentes do riso em O ninho do pássaro. Elas s?o, cada uma à sua maneira, arquétipos exagerados e distorcidos de perfis de feminilidade da época: a recatada, a voluntariosa, a dócil e a egocêntrica. As sabotagens de umas contra as outras beiram o hilário — com frequência Betsy assume o controle, sai caminhando por quil?metros e ent?o cede lugar a Elizabeth, que se vê desorientada, sem saber como voltar. Há também os ataques físicos a si mesma, a m?o de Bess esganando o pesco?o de Betsy ou Beth, ou arranhando-lhes os olhos, em cenas que remetem a um clássico do terrir, Uma noite alucinante 2, quando a m?o do herói Ash é possuída por um dem?nio e tenta matá-lo. Claro, temos as passagens tensas, quando vislumbramos que há algo mal explicado na morte da m?e de Elizabeth: Bess, a mais repulsiva das personalidades, parece presa em uma moldura de tempo na qual a m?e n?o morreu. Parece saber de algo que as outras n?o sabem, e a revela??o poderá trazer a t?o desejada reintegra??o da pobre Elizabeth. Assim, além de uma obra que satiriza os perfis femininos considerados “apropriados” para a época, O ninho do pássaro contém, no núcleo de sua estonteante arquitetura, um enigma. Com sua resolu??o (que de modo algum entregaremos aqui), Elizabeth e suas irm?s enfim encontram seu lugar no mundo — um lugar mais ameno e ensolarado do que o destinado a outras protagonistas da autora. Afastando-se das perturba??es que a consagraram, Shirley Jackson se mostra hábil ao explorar outro efeito estético, vizinho ao horror, neste romance que a reafirma também como um enigma que nunca nos cansaremos de desvendar. Recomenda??es GALILEU: Camera de brasileira é engolida por tubar?o e imagens do interior da boca impressionam GALILEU: Qual a diferen?a entre crocodilo e jacaré? E por que n?o existe crocodilo no Brasil? GALILEU: Por que macacos montam em cervos nesta ilha do Jap?o? Novo estudo investigou